Crônicas, Crises, Cotidiano

agosto 7, 2010

36

Filed under: Uncategorized — pelanoitedorio @ 3:01 pm

Tamanho 36.

Creio que minha etiqueta está para fora. Se bobear, com preço e tudo. Acho que algumas pessoas tentam ler no pequeno retângulo de poliester o motivo para a maioria das minhas atitudes que parecem inversas ao mundo. Na verdade, prefiro até ser. Tenho uma blusa preta que só gosto de usar ao contrário. Pode ser mania ou alternativa. Você pode escolher como lidar com cada situação.

Vou desenhar.

Certa vez, voltando da labuta, durante mais uma das exaustivas noites do Centro do Rio, uma chuva repentina e grosseira começou a cair e surpreender os assalariados que formavam a marcha dos pinguins nas barcas de Niterói, da qual fazia parte. O aguaceiro conseguiu tirar do compasso a coreografia cansada e empurrada da multidão que descia do barco, e transformou a marcha numa correria ensopada e desgovernada. Eu não gosto de guarda-chuva. Não adianta. Enquanto todos abriam seus tetos de tecido e aceleravam os passos, eu ria. Ria mesmo, com um sorriso abertão. Não procurei um teto. Não esperei passar. Comecei a andar até o último ponto de ônibus sentindo cada gotinha d´água lavar o cansaço da rotina. As pessoas que passavam por mim, quando me notavam, mostravam incompressão. Outros se contagiavam. A verdade é que foi uma delícia chegar em casa com as roupas 2 kg mais pesadas. Me senti leve.

Minha etiqueta não tem prazo de troca. Se eu quiser mudar de opinião, transladar gostos e transformar sentimentos, troco. Tem gente que se agarra a tabus, raízes, pré-conceitos e instituições. Eu abraço forte a liberdade e o prazer. E muitos cruzam o braço pra isso.

Coisa esquisita.

Sempre usei meu nome como Lorena Ribeiro, mas agora quero passar a investir no Pimentel.

Família da mamãe.

O que acham?

Prazer, agora sou Lorena Pimentel.

(OBS: Esta crônica estava em meus rascunhós há 2 anos e, por incrível que pareça, ainda não mudei de opinião. Odeio guarda-chuva. Amo o nome da minha mãe. O problema é que, em breve, terei que acrescentar mais um. Mas isso é assunto para outra hora!)

agosto 5, 2010

MEA CULPA

Filed under: Uncategorized — pelanoitedorio @ 3:16 pm

Eu confesso. Confesso tudo. Pago penitência. A culpa é minha mesmo. Vítima e réu de uma vez só. Sentada no banco da acomodação e do silêncio. Empurrada para a luz pelas onipresentes redes sociais. Confesso: havia me esquecido de vocês. Mas acho que fica pior.

Esqueci de mim. Nos últimos dois anos, quis mais os outros. Os outros amigos, os outros amores, os outros rumores. Quis o que não tinha. Quis me formar em jornalismo, quis me mudar, me mudar de todos os jeitos que a polissemia do verbo suporta. E só hoje, quando vasculhei meu blog novamente, desejei ser eu de novo.

Me apaixonei por mim. Pelo romance que tinha com as palavras, com as poeiras da vida escondidas sob os tapetes, com vocês – amantes desconhecidos que presenteavam com comentários doces. Quero floreios. Flores. 

Tive ciúmes de mim. Da magia que via no mundo, nas pessoas, nas dores. A ambição por um futuro próspero me machucou. Abriu uma ferida no meu pé para não fazer balé com as circustâncias. Tinha encerrado meu espetáculo.

É minha culpa. Meia culpa. Culpa e meia. E o maior castigo que posso ter, já sinto na carne e nos dedos.  É essa vergonha de escrever aqui novamente. Como se o corpo estivesse mais volumoso e fosse ser execrada ao me despir. O seio arrepia. O seio de tudo isso é o medo mais caloroso de quem vive essa febre de aceitação pelo mundo: a falha.

Falhei com vocês. Falhei comigo. E estou de volta. Por favor, me façam ficar.

Confesso que eu já não sou mais a mesma. Mea culpa.

OBS: Esse post é uma homenagem à Lia Winter (www.liawinter.wordpress.com), que parece padecer da mesma doença que eu. Nosso inverno está longo demais.

agosto 23, 2008

Meninas de ouro

Filed under: Uncategorized — pelanoitedorio @ 5:00 pm

Quebrando o protocolo da preguiça carioca, a Gávea acordou cedo, em plena manhã chuvosa de sábado, para soltar fogos e gritos. Vozes vibrantes, em maioria masculinas, orgulhosas de nossas meninas de ouro, ecoaram pelos prédios, agitando a cachorrada. Um alarde que tentava atravessar o globo e chegar até Pequim. Até os ouvidos de uma seleção que jogou com a alma, espalmou um passado dramático e cravou uma vitória que já tardava a acontecer.

E no lugar das comemorações embriagadas e cambalhotantes, regadas a álcool e salgadinhos, um café da manhã tranquilo, em companhia da família e do bicho de estimação. Uma vitória com cheiro e sabor de pão quentinho. Com direito a um sonho dourado de sobremesa, que não se encontra em padaria. 

Parabéns, seleção feminina de volêi.

( Tinha que extravazar meu patriotismo tolo de Olímpiada, que tem tirado meu sono e molhado meus pijamas de lágrimas. )

agosto 6, 2008

Pliê( sic)

Filed under: Uncategorized — pelanoitedorio @ 4:54 pm

Lá estava ele. Ao compasso ensurdecedor de buzinas e motores histéricos por velocidade, marcando o ritmo da miséria com os pés.

Iluminado pelo sinal vermelho, lá estava ele, devidamente magro, por força da fome, apresentando-se de braços abertos num balé de indiferença, sem cortina, nem aplausos.

A pele colada nos ossos substituía pertubadoramente o colan de lycra.  O que ficou evidente quando, subitamente, ele levantou a camisa esburacada pelo tempo para fazer uma pirueta de clemência.

Ao expôr sua barriga murcha e pelada, o raquítico bailarino queria mostrar para o público , confortavelmente disposto dentro de cada carro, que não havia nenhuma arma em sua cintura.

Deu uma, duas piruetas, equilibrando-se na ponta dos pés, na tentiva de ser visto por todos, inclusive por aqueles que estavam nos altíssimos ônibus.

Se recompôs e começou a equilibrar limões, fazendo balé com as mãos. Os olhos, curiosamente, não conseguiam se concentrar no malabarismo. Buscavam rostos comovidos e vidros entreabertos.

Abri o meu, e agradeci o espetáculo com uma moeda de um real. Ele me agradeceu com um sorriso e um pliê.

E quando olhei pelo retrovisor, lá estava ele, no canteiro da rua, fazendo música com as poucas moedas que balançavam no seu bolso.

Pliê.

julho 21, 2008

VIVA

Filed under: crônicas — pelanoitedorio @ 5:21 pm

Em comemoração ao primeiro mês de vida (e muitas vidas salvas) da lei seca, neste domingo, aqui vai uma crônica que comecei a escrever no primeiro final de semana em que nova regra entrou em vigor.

” Estou ficando meio zonza com essa estória de lei seca. Acho que é minha consciência chacolhando recordações deturpadas de noites embriagadas ao volante. Dá um sensação meio úmida de vergonha, que enxarca meus olhos vermelhos e com pupila dilatada. Foram milhares de ruas repentinamente sinuosas, centenas de sinais vermelhos recusados, dezenas de  buracos invisíveis, mas, graças a Deus ou algum vestígio de reflexo, nenhum acidente.   

O que me intriga nessa norma é a certeza dos meus maus hábitos. Por trás do meu hálito de álcool, sempre havia um discurso preparado para afirmar para cada colega ou segurança QUE ESTOU ÓTIMA, OLHA SÓ! Mas quando baixava o vidro do carro para entrar na turva garagem do prédio, equilibrando os pneus para passar entre colunas de mármore, era o meu porteiro que suspirava aliviado, apesar de nem saber meu sobrenome. E era ele que me fazia lembrar do que a vodka me fez esquecer, no dia seguinte, ao acordar e passar pelo portão, debaixo de um olhar de espanto e preocupação.

É bom conhecer os caminhos, respeitar o vermelho, as placas, os limites, o próximo. É bom chegar na festa ou na boate e não precisar ouvir uma garrafa ou latinha se debatendo no chão do carro, gritando para as quatro portas que a ida poderia ser tão perigosa quanto a volta. É bom saber que o som está alto demais, o acelerador está apertado demais, a vida é delicada demais. Bom saber que errei por tanto tempo, mas que agora sempre vai ter um taxi ou uma carona para me aliviar a dor dos calos do salto, a incerteza das pessoas e postes duplos, o frio dos pés tensos no freio, e o medo de um carro que venha nas sombras da madrugada pelada.

Viva a lei seca, as vidas salvas, o bom senso,  o Brasil que pode funcionar. VIVA você”.

abril 13, 2008

Sábado de sol

Filed under: Uncategorized — pelanoitedorio @ 3:05 am

Pés na areia,

Cabeça nas nuvens,

Barraca fincada,

Bumbum empinado,

Cadeira molhada,

Cabelo embolado,

Cerveja gelada,

Tatuagens no corpo,

Assistir uma pelada,

O sol lá no topo,

Esvaziou o copo,

Sumiram as sombras,

O papo de costas,

O ardido nos ombros.

Fruta no rosto,

Inferno ao oposto.

Sábado de sol. E eu achando que podia viver sem isso.

 

 

abril 6, 2008

Alfinete

Filed under: crônicas — pelanoitedorio @ 8:24 pm

Nunca gostei de encher bola de festa. Ainda mais se for de cor cinza, como o céu deste domingo.

O gosto seco e a textura áspera do plástico que tocamos os lábios para fazer crescer o ornamento faz tudo começar mal. Boca sabe muito mais do que cabeça e sente mais que coração. Boca não gosta de sabor ruim, nem de beijo falso. Boca não engana. Quem engana passa por ela com medo de ser mordido.

Mas aí você ludibria o paladar e continua o serviço de inflar. Expira tão forte que parece que algo além de ar também saiu do pulmão. Isso pode assustar os mais analíticos, como eu. Qual equipamento define o que pode sair e entrar naquele momento? E se, nesse movimento, se for um pedacinho de mim? E se entrar um pedacinho de alguém?

Levei um tempo para aprender a dar o nó na bola. Na verdade, depois que aprendi, também fingi em muitos momentos que não sabia, só para evitar a prática. Exige rapidez e uma certa coragem. Depois de lacrado, o que tem ali dentro só sai se alguém estourar, quiçá com um alfinete.

Hoje, estou me sentindo como se tivesse enchido todas as bolas de festa do mundo.

Vazia.

Engraçado que isso acontece justamente após ter me sentindo, por muitos dias, cheia de si.  

Todo mundo também é seu próprio alfinete.

Encosta a boca, dá o que tem dentro do corpo e da alma, vigia para que aquilo não escape, sela, pensa que vai durar a eternidade e depois, acaba estourando. E aí, parece que abriram a caixa de Pandora. Tudo se esvai com o vento e parece que nunca existiu, mas até pouco tempo tinha forma e cor, e até voava.

Tem que ter coragem para dar fim à uma bola dessas. E ouvidos protegidos. O barulho é tão silencioso que te aprisiona. Parece o som de uma eternidade meio calada.

Então falar me pareceu uma boa opção.  

Alguém aí quer fazer festa?

 

  

  

maio 20, 2007

Nata disso.

Filed under: Uncategorized — pelanoitedorio @ 2:58 am

Um grande problema no Sul, se é que se pode ter algum tipo de dor de cabeça quando se está com os pés na areia, debaixo de um sol maravilhoso e entre um povo que fala cantando, é escolher o que comer. Para os devotos da dieta, Santa Catarina é uma pecado irrevogável, e o inferno tem o nome de Toca do Jurerê. Escolher um prato no cardápio deste restaurante é quase decidir entre verão em Búzios e inverno em Itapaiva. Até que surge: CAMARÃO EMPANADO RECHEADO DE CATUPIRY COM ARROZ COBERTO POR NATA. Quando, por nada, resolvi contestar o uso da nata. Nata. Nata. Me lembrou aquela cobertura nojenta que o leite quente fazia, e que cobria a superfície do meu nescau. Nata disso.  Pedi que o garçom trocasse a cobertura intrometida por queijo normal. Silêncio. Como se eu tivesse tentado ensinar o padre a rezar a missa, ele pegou a bíblia da comilança e me avisou do erro que estava por cometer. Bem-aventurada, aceitei a missão, por vergonha da minha falta de know how na cuisine. Pela primeira vez, a fome passou despercebida. Aliás, antes ficar com a barriga cheia de nada, do que de nata. Nojo. Então, chegou o prato. Lindo. Com camarões que pareciam coxas de frango de tão grandes, que dançavam em círculos em volta do arroz embebido da gosma branca. Mas vamos lá. Garfo na mão, na bandeja, na boca. HUMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMmmmmmmm… HUMmmmMMMmMmm….. Cobertura de nata no arroz é o que há. E pensar que eu quase perdi essa.

Gosto de ser pega pela vida de surpresa, assim como a nata fisgou minha língua. Hoje mesmo, indo para o meu segundo dia de Congresso (deste, discuto em outra crônica), e passando pela quarta vez na mesma rua, resolvi olhar para cima e checar o tempo em São Paulo, quando me deparo com a placa de uma rua chamada LORENA. Isso. Cruzava com a do meu hotel. Eu estava ali do lado, e não me vi, por quatro vezes. Às vezes, a gente faz isso.  Esquece da gente mesmo, ou de parte. Tenho vivido numa fome de conhecimento e pontualidade que havia esquecido de uma das coisas que mais gosto: o poder do acaso. Tem coisas que acontecem por acaso. Não lembrava.

Ontem, saindo desse mesmo Congresso, debaixo de chuva, me refugiei na FNAC da Avenida Paulista. Entrei para procurar um gravador digital, mas acabei adquirindo um dvd virgem. Lembrei que havia uma matéria no notebook que queria entregar a um dos palestrantes no dia seguinte. Cheguei no hotel e vi que já tinha o vídeo gravado num cd. E me achei uma otária. 5 reais mais otária. Mas gravei. Nada pra fazer. Gravei. Hoje, levei os dois para a reunião. O que aconteceu foi que surgiu mais um palestrante para quem a outra matéria também seria interessante entregar e me promover. Aliás, essa é a segunda parte que faltava em mim, acreditar em mim mesmo que não acredite que possa dar certo. Dois tiros num só coelho. Epa. Nada de tiros em bicho nenhum, porque me recorda dessa caça aos ursos que me dá calafrios e muita vontade de chorar. O mundo está doido mesmo.

Enfim, o que queria passar aqui para dizer hoje é para não esquecerem que do nada pode surgir uma nata saborosa, é só saber olhar pra cima, para o lado, e também para trás, não só para frente, ansiosa pela chegada do prato. Estou retardando o passo, pisando nas poças de água das chuvas paulistas de havaianas. Sim. Hoje a noite, após chegar ao hotel e tirar a roupa de gente grande, percebi que tinha deixado a droga do gravador em uma das palestras. Do jeito que estava, moletom e chinelos, voltei ao local do Congresso, e só fui perceber a minha inapropriação quando o segurança do prédio me olhou torto. Olhei para o meu reflexo na porta do prédio que não pude entrar e ri. Ri muito de mim mesma. Pois, depois de quase 40 dias, alguém me olhou torto, como se eu fosse displicente, malcriada, revoltada. Eu nem lembrava o que era isso. Que delícia. Saí de lá, sem meu gravador, encarando o vento gelado de 14 graus, desfilando meu moletom, havaianas e sem-vergonhisse na Avenida Paulista às 20h, com todos os engravatos e engarrafados tentando me entender. Pisei na poça, atravessei sinal correndo, prendi o cabelo engrenhado, paguei o taxi com dinheiro amassado, e voltei para o hotel aposentar minha rebeldia de minutos na saudade de escrever, de organizar sentimentos em palavras, de voltar à neurose da intelectualidade, racionalidade.

 Nata disso. Vou desligar o pc agora, deitar na cama e lembrar de mim mesma.

Beijo! Estava com saudades de vocês.

março 20, 2007

Mistérios da minha bolsa

Filed under: Uncategorized — pelanoitedorio @ 3:39 pm

Certa vez, pedi ao meu irmão mais velho para pegar o celular que estava dentro da minha bolsa. Ele voltou com o bendito acessório na mão, e me entregou para que eu fizesse a busca. Indaguei o porquê daquilo, e Thiago respondeu com um misto de lógica e espanto: “Eu lá vou abrir bolsa de mulher”?!

Hunf. Não compreendi o motivo do medo… até ontem. Nunca se sabe o que pode ser extraído de um negócio desse, e o que isso pode te revelar.

Durante uma aula entediante, brincava de bagunçar ainda mais a minha bolsa da faculdade, quando achei um canudo de refrigerante ainda com a proteção de papel. Aí você pensa… Por que raios tem um canudo ali? Lembrei dos meus dias de extrema fome e extrema pressa, foi provavelmente num desses que enfiei o fininho na bolsa e devorei a latinha com todos os seus micróbios. Anotar: “usar o canudo da próxima vez, não jogar na bolsa”.

Continuando a exploração, me deparo com uma coisinha redonda, já enferrujada, patinando no fundo de seda de oncinha rosa: era uma ficha para o orelhão. A grande pergunta é: De onde ela surgiu? Eu, sinceramente, não lembro de já ter usado esse recurso, ainda, não acho que o mesmo seja usado hoje em dia. Daí, vem a preocupação: quem poderia estar habitando minha bolsa e com quem queria falar???? Anotar: “mantê-la com o zíper fechado e o mais próximo possível”.

A saga continua. Ainda sobre os metais, acho uma moeda de euro, e eu nunca fui à Europa. Acho que o habitante da bolsinha queria ligar para algum parente francês, dar um Bonjour. Mas tinha que deixar logo ali com os meus pertences? Estou achando isso um quebra-cabeças. Será que é pra seguir as pistas? Anotar: “Manter a moeda corrente do meu país na bolsa, para não passar o vexame de não ter 1,50 para pagar a xerox da aula de Teoria”.

Descobri também que no dia 05/03/2007, às 17:14:36, sob o número arrrecadador 150074 e a quantia de R$ 3, 40 paga na faixa 10, em dinheiro, eu estava indo para Niterói. Recibo da Ponte SA, e de que eu discretamente tinha matado as aulas da faculdade. Mais ainda, é o comprovante de uma grande alegria que a partir daquela segunda ia fazer parte da minha vida. Mas isso é assunto para outra crônica. Anotar: “Cada escolha, uma renúncia. Ir para Niterói naquele dia foi a melhor escolha do ano até então. Guarde o certificado”. 

As notinhas amareladas amassadas do Redecard também me fizeram entender o ganho de um ou dois quilinhos de um tempo para cá. Em menos de 10 dias, comi 4 vezes no Fastway. Sanduíche com pão de parmesão, duas salsichas, queijo cheddar, azeite, azeitonas, cebola, orégano e batata palha, molhados por 500 ml de Fanta Laranja. Anotar: “Você tem 20 anos agora, e não 2. O metabolismo está mais lento, e você vai engordar. Acredite, você vai engordar. Diminuir a frequência dos hot dogs”.

Que tal segurar uma arcada dentária de silicone?A moldeira que fiz para clarear os dentes também apareceu para a festa. Só não entendi a parte de ela estar lá há mais de 3 semanas, e não nos meus dentes. Pelo menos, ela conheceu a Argentina e a Nova Zelândia nesse tempo, tem estória para contar. Pena não ter gel para ser utilizada. Anotar: “Comprar o gel, tirar essa droga da bolsa e pôr nos dentes, Lorena, acorda”.

Por fim, o momento mais mais assustador para os homens, no verso de uma conta com pagamento atrasado da NET – um recado da minha mãe.

” Os primeiros passos para ser uma dona de casa

1 – Jogar o lixo todos os dias na lixeira, inclusive dos banheiros.

2 – Trocar e limpar a areia do gato 2X ao dia para não ficar com mau cheiro.

3 – Olhar a caixa do correiro 3X por semana.

4 – Colocar roupa suja no cesto.

5 – Arrumar a cama quando acordar.

6 – Passar uma vassoura na casa de manhã ou a noite, todos os dias.

7 – Passar um pano úmido na casa também”.

Se isso me põe tremedeiras na espinha, imagina para um ser humano do sexo masculino. Anotar: “Quero voltar a morar com minha mãe”.

Ponto final. Põe na bolsa.

março 16, 2007

É longo, mas a viagem também foi!

Filed under: Uncategorized — pelanoitedorio @ 2:30 am

Kiaora, meus amigos!

 

É com o cumprimento maori equivalente ao nosso “oi” que inicio meu registro de 20 dias de férias no paraíso. Antes de tudo, pegue um mapa. Partindo do gigantesco Brasil, procure à sua esquerda um borrãozinho esverdeado próximo à Austrália. Um país dividido em duas pequenas ilhas. Chegamos. Lar dos esportes radicais, das centenas de ofertas de emprego flexíveis e com salários tentadores, dos maoris, da tatuagem, das praias paradisíacas. Kiaora! Você chegou à Nova Zelândia.

 

Depois de 16 horas de vôo, pisei em terra firme. Troquei os dólares americanos pelos neo-zeolandeses, e ainda ganhei uma graninha. Comecei bem. O propósito inicial da viagem seria visitar minha melhor amiga que passava quatro meses no país trabalhando e aprendendo inglês. Aliás, experiência super recomendável.  A Ana faturava 800 dólares por semana catando flores ou frutas, e isso de forma nenhuma me parecia real. Nem mesmo quando me falava sobre todo o respeito com o qual os naturais da ilha se tratavam, da tranqüilidade de se andar nas ruas a qualquer hora do dia e de se dormir dentro dos carros, das estradas sem um buraco sequer, e da lei do silêncio que mantinha um ar espiritual no trânsito imaculado sem as buzinas, e nos terminais de metrô que só anunciavam a chegada do transporte por meio de letreiros. Você acreditaria?

 

Pois acredite. Eu vivi essa experiência, e aprendi muito. Minha primeira aula foi sobre os nativos da ilha, os índios maoris. Eles habitavam a Nova Zelândia antes de os ingleses colonizarem a terra. Hoje em dia, travam a mesma batalha dos índios brasileiros: a tentativa de preservar sua cultura. Com muito mais sucesso, entretanto. Por qualquer cidade que passe, há artefatos maoris. Colares com pingentes de osso, pedras milenares, e couro são os souvenirs mais procurados. Há ainda algo que muitos garotos não deixam de levar na volta ao país de origem – e levam na pele – as tatuagens maoris. Elas são mundialmente conhecidas por serem as pioneiras no estilo tribal. O seu ritual foi o que mais seduziu minha atenção. Caso procure um índio para fazer a sua tatuagem, ele fará uma entrevista com você buscando experiências, valores, aspectos que te definam e ilustram a sua vida. Pode levar um, dois, ou três dias até que ele sinta que conheceu a sua essência. A partir daí, o maori elabora um desenho cheio de símbolos que traduzem tudo o que contou a ele. Tive a felicidade de ver uma tatuagem dessa, e me emocionei.

 

Depois do papo didático, a Ana me apresentou o lugar onde nos hospedaríamos. Um Backpacker. Casas ou prédios projetados e equipados para receber jovens de todos os países por um preço muito bacana (varia entre 15 a 25 dólares neozelandeses por dia). Cybercafe, cozinha comunitária, banheiros, centros de informações turísticas, bares, telefones, sofás espalhados por todos os lados, assim como dezenas de máquinas de refrigerante e guloseimas. Os personagens do falatório tinham os mais diferentes sotaques falando o inglês que todos conhecemos de formas totalmente diversificadas. Convive-se com pessoas das mais diferentes culturas, ouve-se estórias sensacionais e a paquera, obviamente, rola solta. Me impressionou o respeito entre a galera que mal se conhecia. Ninguém pega comida de ninguém dentro da geladeira comunitária, você divide o quarto geralmente com 6 ou 8 pessoas, e pode deixar as malas abertas pois, definitivamente, nada vai sumir. Ia me apaixonando por aquele país a cada hora que se passava, e estava só começando.

 

A primeira cidade do roteiro foi Queenstown, mundialmente conhecida pelos esportes radicais. Pode-se fazer manobras molhadas nos jetboats, pular de pára-quedas de um avião há muitos metros de altura, ou experimentar a sensação única do bungee-jumping. Não poderia sair daquele lugar sem atestar a minha coragem. Procurei o centro turístico mais próximo, e pedi, tremendo dos pés a cabeça, para me inscrever no salto do NEVIS, o segundo bungee mais alto do mundo. 134 metros de altura, num pulo que te dá a velocidade de 145 km/h. Mal dormi a noite, e na manhã seguinte viveria uma das emoções mais indescritíveis da minha vida. Mas vou tentar colocá-la em palavras. A adrenalina aquece teu sangue, seus pés não param, e a única coisa que consegue pensar é em desistir. A batida da música eletrônica na cabine tenta te distrair, enquanto os funcionários do NEVIS te vestem com todos os apetrechos para curtir a queda com toda a segurança necessária. Sugerem que olhe para o ponto mais alto da montanha, respire fundo e sinta a liberdade. Você abre os braços, flexiona os joelhos, e salta para o meio do vento, num silêncio terno e confuso, seu corpo se alterna em sensações de calor e frio, o rio cristalino fica cada vez mais próximo do teu rosto – tudo isto em apenas 8 segundos. Já sonhou em voar? Eu voei.

 

Alugamos um carro, e fomos dirigindo até Christchurch, 400km de distância. Também tem isso. Na Nova Zelândia, é possível comprar, veja bem, comprar um carro em boas condições por mil dólares, viajar por todo o país, e vendê-lo em menos de uma semana ao final da sua jornada. Foi o que fizemos. Até sobre as estradas tenho estórias para contar. De fato, não há um buraco sequer, todas são muito bem conservadas e sinalizadas. Inclusive, a cada curva, observa-se uma placa indicando a velocidade exata para completá-la sem qualquer perigo ou esforço. Perfeito. Tem mais: a cada 20 km, há uma área reservada para os carros estacionarem e os motoristas descansarem, com sombra e banheiros, evitando dezenas de acidentes por cansaço. Como se não bastasse, você ainda carrega no banco do carona o oceano pacífico, ou montanhas com geleiras mesmo debaixo de sol. Dirigir também é turismo na Nova Zelândia, acredite.

 

Christchurch já era maior que Queenstown. Lembrava ao Rio no corre-corre matutino dos engravatados em busca do café, das mocinhas carregando sacolas e mais sacolas recheadas de roupas novas, e dos baderneiros de plantão nas madrugadas. Há uma catedral lindíssima bem no centro da cidade, onde também achamos feirinhas com lembranças interessantes para as amigos que ficaram no Brasil. As boates mais agitadas ficam na The Street, uma ao lado da outra, o que facilita muito os que procuram aproveitar um pouco de cada, já que as entradas são gratuitas. Há uma outra observação: se você beber demais, e o barman entender que já passou um pouco do limite, ele, gentilmente, te oferece uma água, e somente depois de bebê-la você estará liberado para fazer outro pedido. Abaixo a cabeça, e afirmo que fui o ratinho de laboratório desta experiência que agora narro. Fantásticos mesmo são os parques com gramas sempre muito bem cortadas, limpas, e que tocam um rio que corta a cidade, onde os gansos passeiam, e os jovens molham os pés conversando. A colonização inglesa se traduz nos pequenos detalhes, como as tradicionais cabines telefônicas vermelhas e o trem que corre toda a cidade. Chorei ao partir de Christchurch.

 

A última visita foi em Auckland, a capital da Ilha Norte. Se não estiver muito atento, por pouco não acredita estar em Tókio. Há uma quantidade enorme de olhos puxados andando para todos os lados, oponentes letreiros digitais, dezenas de bancos internacionais, e até mesmo banheiros eletrônicos. “Olá, você está entrando em um banheiro eletrônico. Fique a vontade”. A torneira é acionada pelo toque, a descarga é automática, assim como o rolo de papel higiênico. Sensacional. No meio das águas da praia, há um hotel da famosa rede Hilton, projetado para parecer um navio. Durante a noite, ele fica todo iluminado, e somente quem sabe não confunde com uma embarcação. Não cheguei a entrar, mas dizem que a diária supera o valor de mil dólares por dia. De qualquer forma, o Skytower é o cartão postal da cidade. Um hotel que tem em seu topo uma torre com observatório, de onde pode-se ter a vista mais privilegiada de toda Auckland. E mais, os aventureiros podem pular do topo dessa torre, amarrados pela cintura, enquanto os turistas clicam suas câmeras incessantemente.

 

Só há uma coisa da qual me atrevo a reclamar deste passeio: não se atreva a entrar em um restaurante. Nossa, como se come mal. Os pratos são simples, mal temperados, caríssimos (pode pagar num prato de macarrão quase 50 dólares), e certamente vão misturar um creme de abacate salgado no seu pedido. Não entendi quando pedi nachos, e recebi nachos, com creme de abacate e feijão doce. Foi estômago embrulhado por dois dias e menos 35 dólares no bolso. Opte pelo Mc Donald´s, Domino´s ou Burguer King, é mais seguro.

Com cento e cinquenta fotos na câmera, um colar maori no pescoço e uma tatuagem na costela, recordações das mais saborosas aventuras (pois essas sim eram saborosas), duas malas de roupas sujas, e moedinhas de dólares perdidas na bolsa, deixei o aeroporto de Auckland com lágrimas nos olhos, e o sentimento de que nunca mais iria esquecer daqueles 20 dias num lugar onde a civilidade e a diversão coexistem. Saudades eternas.

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